Cosequências da Falta de Limites

CONSEQUÊNCIAS DA FALTA DE LIMITES

Segundo Zagury (2001), as crianças que não sabem lidar com os limites, acabam tento resistência em aceita-los, quando esses limites impedem suas vontades, as crianças tendem a desenvolver dificuldades que se divide em quadro etapas.
Começando com a primeira etapa que provoca descontrole emocional, histeria e ataques de raiva nas crianças de até seis anos
“... ela também não tem ainda nenhuma noção de valores. Não sabe — e nem pode saber — o que é certo ou errado. Espera-se que cada papai e mamãe, ainda que intuitivamente, tenha consciência disso e, portanto, encarregue-se de, paulatinamente, ir mostrando aos filhos, em todas as ocasiões, (...) Cabe aos pais ir, pouco a pouco, levando esses conhecimentos aos filhos. Aos pais em primeiríssimo lugar, porque é sua responsabilidade — e responsabilidade não se delega —, além do que, acredito que nenhum pai queira incumbir a outros a formação ética dos filhos.” (ZAGURY, pag. 37, 2001)
As crianças dessa faixa etária não têm noção de valores, não sabem diferenciar o certo do errado, sendo que são os pais quem tem a responsabilidade de passar estas noções aos seus filhos, e alguns passam esta responsabilidade para a escola que muitas vezes acaba tentando formar o caráter ético da criança, mas que na maioria das vezes não tem respostas positivas, já que não é papel da escola fazer este tipo de formação.

Porém quando os pais não conseguem, por algum motivo, estabelecer os limites que os filhos tanto precisam, acabam prejudicando a convivência social de suas crianças.
Normalmente as consequências da falta de limite são muitas, mas começa com a não aceitação, pela criança, de qualquer empecilho que venha a atrapalhar ou impedir que sua vontade ou desejo seja realizado.

As crianças não entendem que podem conversar para pedir ou expressar suas vontades, muitas vezes, quando contrariados choram e gritam, pois já perceberam que se fizerem isso os pais cederão, por pena ou falta de paciência de explicar os motivos que não podem fazer o que realmente querem.
A criança que não é orientada pelos pais e é atendida em tudo sempre que chora e esperneia tende a perpetuar esse tipo de conduta. Ela já está aprendendo a alongar seus limites e iniciando o processo de controlar o mundo através, primeiramente, do grito e, talvez depois, pela violência ou agressão. E, convenhamos, o que se pode compreender e aceitar com toda a tranqüilidade num bebê ou numa criança de até 3,4 anos começa a ficar no mínimo incômodo aos 6 ou 7. (ZAGURY 2001 pag. 38)
O que esperamos dos pais é que eles consigam transformar seus filhos em adultos que consigam viver socialmente nos grupos que irão freqüentar, para não se tornar uma pessoa que não consegue ver que todos têm direito a ser respeitado e o dever de respeitar.

A segunda etapa trata da dificuldade crescente de aceitar os limites.
Sem orientação e sendo atendida sempre que grita, bate, quebra coisas, esperneia ou xinga, a criança vai adotando essa mecânica como forma de comunicação e controle do mundo e das pessoas. Quando começa a ir à escola, por exemplo, tende a não aceitar restrições às suas ações: se quer ir brincar no pátio na hora em que crianças maiores lá estão e, por isso, é vedada a ida dos menorzinhos, ela apronta um escândalo, chora, grita, agride, chuta até ser atendida. (ZAGURY, 2001 pag. 39)
Para que nossas crianças aprendam que não é chorando e nem gritando que se consegue as coisas, temos que ser firmes, dizer que não podem fazer certas coisas e explicar o porquê, e se não entenderem e começarem a chorar e gritar, nós temos que falar com firmeza, e demonstrar que desaprovamos essa ação, conversando com calma esclarecendo que não é com essa atitude que conseguirá fazer certas coisas, e retomar o motivo pelo qual não poderá fazer o que quer. Se cada vez que a criança tiver essas atitudes, a mãe agir da mesma forma, em pouco tempo ela perceberá que está agindo errado e não fará mais. Não existem crianças que prefiram um olhar aborrecido ou desaprovador, sendo que podem receber sorrisos e aprovações.

Educar não é fácil, temos que ser paciente, pois todos os dias nós precisamos repetir o que ensinamos a um ou dois dias atrás, com a correria do dia a dia queremos tudo para “já” não podemos perder tempo, mas temos que ter muita calma quando estivermos intervindo na educação dos filhos, pois eles necessitam da repetição para internalizar o que estamos tentando ensinar.

Nós seres humanos nos sentimos muito bem quando percebemos que somos amados e valorizados pelas pessoas, se for pelos nossos pais então isso é muito bom, com nossas crianças não é diferente, pois quando elas se sentem elogiadas, admiradas, se sentem bem, se sentem felizes, então ressalto que temos que elogiar sempre que elas fizerem as coisas corretas.

Sendo assim fica mais fácil, premiar com muitos beijos, abraços, elogios quando as atitudes são corretas e ignorar ou reprovar as atitudes que são negativas. A não ser que queiramos ver nossas crianças quebrando os brinquedos, agredindo os colegas e muitas vezes os próprios pais cada vez que eles forem contrariados e futuramente violando regras de sociais, insultando as pessoas, professores e autoridades em geral, por não conseguir cumprir com as regras que são pré-estabelecidas.

Na terceira etapa temos os distúrbios de conduta, desrespeito aos pais, colegas e autoridades, incapacidade de concentração, dificuldade para concluir tarefas, excitabilidade, baixo rendimento
“Vamos recapitular: a criança nasceu, foi cercada de carinho, atenção e afeto. Isso é positivo e não pode faltar nunca — o AMOR. Mas, por outro lado, também foi atendida em tudo, houvesse ou não fundamento para seu desejo. E assim foi crescendo, crescendo e ficando a cada dia mais distanciada da realidade. O mundo se tornou, para ela, seu escravo. Pai, mãe, avós, vizinhos, amigos — todos — só existiam para satisfazer suas necessidades. Assim, ela percebeu que podia interromper aos gritos quem estivesse falando; comprar todas as roupas e brin¬quedos que desejasse; comer os chocolates que quisesse na hora que quisesse; praticamente arrombar a porta do quarto do papai e da mamãe se a encontrasse fechada;(...)cumprir as tarefas escolares à noitinha quase caindo de sono, após ter jogado futebol, andado de bicicleta, brincado com seus joguinhos eletrônicos, navegado na Internet etc.’ (ZAGURY, 2001 pag. 41)
Sendo assim, depois de ser educado da maneira explicitada acima, é muito complicado para uma criança entender que é não pode ter certas atitudes na escola ou em lugares públicos, se tornando uma criança que certamente irá gritar, espernear, chorar quando for contrariada, pela professora, colegas ou qualquer autoridade que lhe impedir de realizar alguma de suas vontades.

Quando a criança estiver com mais ou menos oito anos, os pais irão perceber que não terão autoridade para educar esta criança, pois quando pequeno tinha personalidade, punham suas vontades acima de tudo, os pais achavam tudo muito “engraçadinho”, agora percebem que seu filho não sabe ouvir um “não pode”, eles não conseguem fazê-lo estudar, a ter educação para conversar com os mais velhos, a respeitar a fila, a tolerar pequenas frustrações, seu rendimento escolar é baixo, pois não conseguem se concentrar, não querem copiar do quadro, afinal “tudo que querem podem fazer”.
“Exagero? De forma alguma. A criança que não aprende a ter limite cresce com uma deformação na percepção do outro. Só ela importa, o seu querer, o seu bem-estar, o seu prazer. O egocentrismo, natural nos primeiros anos, mas que deve diminuir, nesses casos, nessa etapa, está exacerbado, só cresce.” (ZAGURY, 2001 pag. 43)
ZAGURY complementa:
As conseqüências são muitas e freqüentemente bem graves:

  • Desinteresse pelos estudos.
  • Falta de concentração.
  • Falta de capacidade de suportar quaisquer mínimas dificuldades. 
  • Falta de persistência.
  • Desrespeito pelo outro — colegas, irmãos, familiares e pelas autoridades em geral.

Frequentemente a criança sem limites é confundida com as que têm hiperatividade verdadeira, pois de fato, os resultados da falta de limite têm semelhança com os sintomas desse distúrbio neurológico. Na verdade, é provável que seja o caso da hiperatividade situacional, por consequência de poder praticar todas suas vontades, essa criança podem desenvolver características de irritabilidade, instabilidade emocional, redução da capacidade de concentração e atenção, derivadas, como vimos, da falta de limite e da incapacidade crescente de tolerar frustrações e contrariedades.

O pediatra e psicanalista britânico Donald Winnicott dizia: “É saudável que um bebê conheça toda a extensão da sua raiva. Na vida, existe o princípio do desejo e o princípio da realidade. Uma criança a quem se cede em tudo imediatamente, ‘a quem nunca se recusou nada’, como dizem os pais, suporta mal a frustração. Muitos desses pais que cedem sempre vêem o filho no presente, ao passo que aqueles que sabem dar sem mimar vêem o filho no tempo e no futuro. Eles lhe oferecem perspectivas, lhe mostram o valor do desejo e da espera, para melhor saborear o que é obtido.”

Em resumo, aquilo que, nos primeiros meses e anos da vida, pode parecer apenas engraçadinho, interessante e até afetivo, "sinal de amor" como pensam alguns (deixar sem orientação e sem limites), acaba levando a criança exatamente ao pólo oposto ao desejado: tentando evitar traumas psicológicos, os pais estarão, dessa forma, com muita probabilidade, propiciando sérios problemas num futuro nem tão distante.

Na quarta etapa temos as agressões físicas se contrariado, descontrole problemas de conduta, problemas psiquiátricos nos casos em que há predisposição
Se existir reação dos pais na primeira etapa, provavelmente a criança conseguirá aprender a ter respeito pelos outros, a lidas com as negações e frustrações, pois é uma etapa natural do desenvolvimento e da aprendizagem, o que não podemos é deixar que a falta de limites cheque a este ponto.

Prosseguindo nessa linha, suponhamos que os pais não ajam na primeira nem na segunda etapa — aquela da difi¬culdade de aceitar limites de forma crescente. A tendência. por conseguinte, é que a criança comece a ter problemas de comportamento e de ajuste social, o que já é um problema bem complexo, e nem tão fácil de resolver.

Se além de tudo isso acrescentarmos ainda uma personalidade agressiva, com baixa auto-estima. insegurança pessoal ou com potencial genético para desenvolver certos quadros de doença psiquiátrica, então a situação pode realmente ficar dramática.
 “Qual de nós não se horrorizou com as recentes notícias de jovens adolescentes que se armam e saem matando pais, amigos, colegas de escola, como os fatos que ocorreram nos EUA? Qual de nós não se sentiu francamente descrente da humanidade quando cinco jovens em Brasília, de classe média, saindo de uma festa, com tudo para viverem satisfatoriamente, atearam fogo a um homem que dormia no chão, o infelizmente "famoso caso" do índio pataxó?...” (ZAGURY, 2001 pág.46)
Estes conflitos citados acima, Zagury trás no ano de 2001, agora já se passarão dez anos e estes problemas só vem aumentando, com as notícias da TV, de grupos homofônicos quebrando lambadas no rosto de jovem que achavam ser homossexual. Os famosos “bullying”, que são, segundo o site da “Wikipédia”, um termo do inglês para se referir a uma pessoa ou um grupo que pratica violência física ou psicológica intencionais com frequência contra pessoas ou grupos diferentes do que se espera da sociedade, do grupo ou da pessoa que pratica estes atos violentos, que agora está são sendo questionados, mas que há muito tempo existe, e tudo isso acontece porque, existe uma relação direta entre a falta de limites e o jeito distorcido de ver o mundo podendo levar a marginalidade, ao alcoolismo e as drogas.
Seria mais ou menos como se jovens criados dessa forma pensassem: "o mundo existe para o meu prazer, para o meu deleite (aprenderam isso por terem pais que dizem sim a tudo, superprotegem e não desenvolvem responsabilidade); todos devem fazer o que eu quero e gosto; quem não gosta de mim ou não faz o que eu quero, como eu quero, na hora que eu quero, é indigno de viver, é meu inimigo. Isso explica (em parte, eviden-temente) por que os jovens de Brasília afirmaram "nós só queríamos nos divertir" como justificativa para incendiar uma pessoa; "... (ZAGURY, 2001 pág.46,47)


 Com tudo isso, podemos tentar mudar o futuro destas crianças, que nas escolas muitas vezes demonstram que limites e regras são coisas não existem nas suas residências, pois as professoras não podem contrariá-los e muitas vezes os colegas que não concordam com seus pensamentos acabam apanhando, ou tendo alguma consequência não muita agradável.
Se conseguíssemos fazermos com que nossas crianças aprendam a interagir positivamente no meio social, se mostrarmos que se forem bondosos é respeitosos terão em troca, na maioria das vezes, a bondade e o respeito da sociedade, se para ter o que quer não precisa humilhar nem tirar vantagens das pessoas, e sim lutar honestamente para conseguir.
“São essas as lutas que temos de travar com nossos filhos, dia após dia, hora após hora, minuto após minuto. É uma tarefa árdua, longa e cansativa, porém é a melhor forma para nos levar a ter filhos cidadãos, responsáveis e conscientes de seus direitos e deveres, em vez de cria¬turas egocêntricas, anti-sociais, hedonistas ao extremo, sem capacidade de luta, sem tolerância à frustração e, em conseqüência, sem capacidade de adiar satisfação.” (ZAGURY, 2001 pág.48)
 Sendo os limites a melhor forma de educarmos nossas crianças, temos a obrigação como professores de educação infantil, mostrar para os pais à importância dos limites na educação de seus filhos, que não é só a escola que tem o dever de educar e ensinar seus filhos a serem cidadãos.